O desejo de deixar uma marca por onde passa e levar arte para as comunidades carentes é o que move o grafiteiro Andrigo Martins. Com a ousadia de carimbar seu nome nas paredes de Caxias do Sul, o Monstro (como gosta de ser chamado) supera os obstáculos impostos há mais de 10 anos. E não pretende parar por aí.

Nascido na periferia de Caxias, Andrigo cresceu em meio a desigualdade e a falta de incentivo. Desde criança, ouvia que não tinha o dom de entender matemática ou história, mas sim de fazer o que sabia melhor: desenhar e pintar. Sua construção social foi a arte. É através dela que moldou a sua personalidade e descobriu a sua vocação.

O grafite entrou em sua vida aos poucos. Aos 15 anos, um grupo do movimento hip-hop da zona norte da cidade o convidou para acompanhá-los nos ensaios. Durante essas reuniões, Martins pintava. E encantava. Com giz de cera e tinta, o futuro artista dava seus primeiros rabiscos pela cidade. Porém, nessa época o seu foco ainda era auxiliar o pai em seu trabalho como servente, nas construções. Mas, nem lá esquecia da arte. Desenhava em PVC’s e recebia muitos elogios vindo dos demais trabalhadores. Exceto do próprio pai, que ainda marginalizava as ações. Quando caiu a ficha, Andrigo resolveu tornar-se independente e ir viver do seu talento. Após muito tempo realizando pinturas com os dedos, finalmente entrou no mundo dos sprays.

Dentro de uma cidade egocêntrica, Monstro começou a registrar suas grandes obras nos muros, com o intuito de passar alguma mensagem à população. No entanto, em nenhum momento esqueceu a sua essência. Mesmo enfrentando diversas barreiras do preconceito, voltou para a periferia. Onde tudo começou, passou a realizar trabalhos em centros assistenciais. O seu talento encantou os profissionais desses espaços e, assim, passou a ser também educador infantil. Andrigo busca levar para as crianças o fantástico mundo da arte.

Apesar de ser respeitado nas comunidades, o artista sempre deixa claro o quão difícil é a aceitação da elite caxiense. Mesmo com todo o seu conhecimento, a busca por espaço e respeito ainda é árdua. O preconceito com sua classe social, cor de pele, fala e vestimentas ainda é motivo para ser parado por policiais nas ruas e em estabelecimentos. Para vencer estes obstáculos, Andrigo utiliza a sua paixão pela arte para criticar a intolerância e as demais atitudes semelhantes que ocorrem no Brasil, principalmente.

Hoje (época em que o texto foi produzido), o grafiteiro e educador infantil possui diversos projetos sociais espalhados pela cidade. Um deles é o seu mais novo estúdio profissional: o “Santa Lata”. Nele, são produzidas ações especiais, como a iniciativa “Latas Poéticas”, que visa enfeitar a cidade com latas de spray coloridas contendo poesias. A atitude, por mais simples que seja, dá vida ao município e ainda oferta um conteúdo diferenciado e gratuito para a população.

Andrigo Martins é um artista que quer transformações sociais. E por mais sonhador que soe, aos poucos ele vai tornando isso realidade. Com os pés no chão e as mãos sujas de tinta, o seu desejo é levar arte ao mundo.